Saudade deveria ser sinônimo de reconhecimento. Reconhecer um tempo ímpar de experiências e vivências que, mesmo cotidianas e corriqueiras, mostrarão a seu tempo, seu real valor. Agradecida por cada dia e minutos em que meu ser foi capaz de registrar na alma e no sentimento, aquilo que muitas vezes, não registramos em nosso olhar.
Escrevi isto no
dia 21/03/17, uma noite antes da morte da minha querida e especial amiga. Ana Maria Cruz é uma dessas amizades que são sementes
que, generosamente, o destino semeia em nossa estrada muitas vezes ressequida,
pela falta de um genuíno amor que ultrapassa laços familiares.
Ela chegou em uma
manhã no Sac da Regional Pampulha, para solicitar o corte de uma árvore e eu
tive o privilégio de atendê-la. Feita a solicitação, conversamos um pouco, ela
falou da morte recente do marido e chorou. Eu me levantei, nos abraçamos e sem
que nos déssemos conta, fomos "semeadas", uma na outra.
Sua cordialidade sincera foi algo que eu desconhecia, convidou-me para ir à sua casa tomar um café, me deu seu endereço e telefone e eu imprimi um dos meus textos e lhe entreguei. Nos despedimos.
Sua cordialidade sincera foi algo que eu desconhecia, convidou-me para ir à sua casa tomar um café, me deu seu endereço e telefone e eu imprimi um dos meus textos e lhe entreguei. Nos despedimos.
Como toda semente
que lançamos na terra tem o seu tempo certo para germinar e se fazer presente
na superfície, assim foi conosco. Um ano se passara sem o menor contato e em um
belo sábado, sozinha na minha casa e com uma vontade de dar um passeio, lembrei-me
de Ana Maria.
Mas onde foi que eu guardei seu telefone e endereço? Na agenda do
ano que já havia passado. Fucei nos meus guardados e lá estava ela e na última
página, o que eu buscava. Com a cara de pau que Deus me deu, depois de vários
ligo - não ligo - venceu o ligo. Do outro lado uma voz carinhosa respondeu alô e
quando eu disse quem era, lá estava o convite imperativo, você está sozinha em
casa? Então vem tomar café comigo, a Darci minha cunhada, está aqui e quero que
você a conheça, não fica sozinha não. Menininha vem pra cá, tô te esperando.
Fui. Tomamos café
com pão de queijo, conversamos, Darci levantou-se para ir embora, ía aproveitar
a deixa e a Ana não deixou que eu fosse com um óbvio argumento: "pra quê que
você vai pra casa pra ficar sozinha? Eu também vou ficar sozinha se você for
embora, então vamos conversar mais e você dorme aqui, e amanhã saímos para
almoçar ou eu vou fazer um almoço bem gostoso pra gente".
Depois deste dia,
uma vez por semana, eu saía do trabalho, passava na padaria do seu compadre que
ficava na esquina, comprava o pão bem torradinho e o café já estava cheirando
na rua.
Em Julho de 2016,
minha amiga sofreu um AVC, foi guerreira e continuou lutando pela vida, até que
hoje, dia 22/03/17 ela nos deixou. Eu estava há três semanas com ela, cuidando para
que sua prima Olga pudesse descansar um pouco e sem mais nem menos,
após um café e um almoço maravilhoso, ela se foi e me deixou com um vazio
imenso no coração. Vi no seu olhar a vida esvaindo e não pude acreditar no que
fingia negar meu olhar.
Oi menininha,
você está boa? Nunca mais ouvirei a sua voz, não enquanto eu ainda estiver por
aqui. Sei que o Senhor recolheu mais uma flor, e sei também que ela semeou
jardins imensos e por muitas e muitas décadas ela ainda será lembrada, por sua
alegria, garra e extrema generosidade. Fez amigos como eu jamais imaginei que
alguém pudesse fazer e conservar e se a vida lhe negou filhos, ..
“Canta
alegremente, ó estéril, que não deste à luz; rompe em cântico, e exclama com
alegria, tu que não tiveste dores de parto; porque mais são os filhos da mulher
solitária, do que os filhos da casada, diz o SENHOR”.
Descansa em paz
minha linda. Aprendi muito com você. Por toda a minha vida, vou te amar.
SAUDADES!