quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Enquanto minha, Vida.




Por Vitalina de Assis.







Quem acompanha meu blog sabe que perdi minha amiga Ana Maria, em meus braços há poucos meses. Lidar com a morte de tão perto é algo que nos marca para sempre. Isto porque a morte é silenciosa, chega sem alarde e sequer sentimos sua presença. Nunca pensamos nesta possibilidade de fato, pois a esperança não abre mão do seu espaço nem mesmo quando fica evidente que a vida já foi ceifada.

Meus olhos viram sua vida esvaindo-se, e minha voz e mãos tentando segurá-la a todo custo, mas foi em vão. Não gritei como algumas pessoas gritariam, não soquei seu peito na esperança de reanimar seu coração e segurei minhas lágrimas. Não me atrevi a chorar no momento da passagem, pois se instalou uma reverência e um peso tão forte, que fiquei sem forças. Penso que quem parte, espera de nós, esta atitude em respeito. Um bebê chora ao nascer para evidenciar sua vida, e a Vida, quando se vai, deseja ir tranquila e serena. Quando a morte flerta com a Vida, ela toca, faz um afago e regressa sozinha, quem sabe feliz por permitir mais um tempo, um tempo de apreciação, agradecimento, aprendizagem, arrependimentos talvez, e acima de tudo, uma ímpar oportunidade de ser grato pelas mínimas coisas, pois são elas, as pequeninas coisas, que elevam o nosso espírito e nos aproximam mais do Criador.

Na semana passada visitei a rua onde morava Ana, parei em frente ao seu portão, pensei ter voltado no tempo, estava tudo igual. Seu carro na garagem, as luzes apagadas, pois já era noite e parecia dormir o descanso merecido após um dia de trabalho. Tive ímpetos de tocar a campainha e dizer que ainda estava cedo e que eu queria tomar um café com pão de queijo e ouvir sua voz do outro lado: oi menininha, entra aí, mas lembrei-me, ela não está mais entre nós. Um dia também não estaremos entre outros, e nós, tornar-se-á um vazio que não se preenche com memórias.

Estará alguém preparado para este vazio nós? Não saberia responder até senti-lo eu mesma esvaziando-me, e pode ser que nem assim o saiba, entretanto, a vida está aí preenchendo todos os vãos, se ocupando com o nosso bem estar e felicidade. Brinda-nos com o sol da manhã mesmo que seus raios estejam adormecidos, cobre de estrelas o nosso céu e nos embala em horas tranquilas ou quiçá, insones, e repete este ciclo por dias, meses, anos a fio, com uma ordem inabalável e sem exigir favores.

- Oi, bom dia, sou a Vida. Pode, por gentileza, expressar um agradecimento por esta primorosa manhã e por ter cuidado de ti, enquanto dormias?

Saúda-nos assim? Cobra a Vida por ventura, algum favor? Com um olhar de amor, se sente realizada ao ver-nos despertar a cada manhã, acompanha-nos neste novo dia, antevendo cada passo, cuidando de cada mínimo detalhe para que estejamos bem e felizes, embora saiba que a felicidade, somos nós que a elaboramos.
  
Houve dias de desatenção para com este milagre viver, e a culpa ficou por conta da tal rotina que nos adestra para dias iguais, afinal o que muda de domingo para segunda? A ordem dos fatores não altera o produto, não é assim? Dormir, acordar, trabalhar, trabalhar, faculdade, casa, filhos, e entre estes, quando possível, malhar, “yôgar”, meditar, dormir e começar tudo de novo.

Muito corrido para momentos de agradecimento e deleite pelo simples fato de respirar? Mas afinal, o que muda de domingo para domingo? Mudo eu, muda você e se espera que neste intervalo aprenda-se a ser agradecido. Agradeça a Deus pela preciosa vida que corre em suas veias a cada manhã e fazendo isto, encontrará infinitos motivos para seguir com esta prática e uma postura de gratidão, é a chave mestra que te abre os céus.

Gratidão é um sentimento que vestimos na alma e que desnuda nossa pele.