Por Vitalina de Assis.
Há alguns anos tive um casal de vizinhos amigos, a mulher se
chamava Maria e o marido Santos. Ele possuía uma maneira peculiar de
cumprimentar que me incomodava muito, sempre dizia oi seguido de uma pergunta:
- Oi, você está feliz? Aquilo me irritava, pois me levava ao consenso comum,
“felicidade não existe, existem apenas momentos felizes” e aquele,
particularmente, não me parecia um momento feliz. Nunca fui capaz de expressar
o incomodo que esta pergunta me causava, pois ele me parecia uma pessoa
demasiadamente feliz ou meio louca e o mais interessante é que nunca me esqueci
deste fato. Os anos passaram e eu era a prova incontestável de fragmentos
esporádicos de felicidade aqui e ali, pois na maior parte do tempo, eu me
sentia uma ET perdida no planeta Terra, infeliz por natureza, apesar de...
Então comecei a fantasiar: e se tivesse isto ou aquilo, e se
fizesse desta ou daquela maneira, e se vivenciasse um amor escrito nas
estrelas, finalmente a felicidade faria parte do meu ser. Estava a milhões de
anos luz equivocada, no entanto viver é uma escola que não permite evasão de
sua classe e suas disciplinas aprender-se-ão, e não importa o tempo que se leve
para isto. Meu espírito sempre fora irrequieto, insatisfeito, questionador
e minha pessoa um tanto acomodada, mas como poderia ser acomodada e
irrequieta ao mesmo tempo? Acredito ter sido esta dicotomia um algo a
mais a mover-me e em conflitos constantes, via-me buscando o real motivo que
justificasse minha suposta infelicidade.
Vi-me incontáveis vezes de volta à infância ouvindo minha mãe
adjetivando um corretivo, “ô sua infeliz! Vou te colocar de castigo”.
Eureka! Estaria aí, o real motivo da minha infelicidade? Então a culpada
era a minha mãe, pensava eu com os meus botões e santa ignorância. Ausentes os
meus botões e um pouco mais madura minha santa ignorância, percebo
perfeitamente que o único responsável (propositalmente substituo o
termo culpado, uma vez que o sentimento de culpa pode levar-nos a uma
postura estacionária, ao passo que assumir uma responsabilidade, nos torna
consciente de que o processo de mudança é arrojado e pessoalíssimo.) em
nosso “pequeno” universo por tudo o que nos afeta, somos nós mesmos. Nós criamos
nossa realidade, nossa vida, nossos sentimentos e as tantas “angústias” que
vamos colhendo em nossas terras, são nossas sementes cultivadas com
propriedade, se dê conta disto. Entretanto adoramos culpar A ou B
por nossos infortúnios, como se coubesse a este ou a aquele a sagrada missão de
nos destruir, rotular, roubar valores, nos varrer do planeta. É certo que
enquanto crianças (alguns adultos ainda são assim) não possuímos um filtro, não
somos capazes de dizer não ao que nos magoa, mas logo saímos da infância e
então a questão, invariavelmente, vem às nossas mãos. É pegar e
administrar ou largar e se “contentar” com a infelicidade perpassando por uma
existência que possui o direito inalienável e a obrigação de ser feliz, porém desconhece ou rejeita este fato. A vida, com sua
generosidade inquestionável ensinou-me a pegar e administrar, (confesso que demorei um pouco para colocar a mão neste arado, mas reconheço o tempo hábil para todas as coisas.) pois
tudo são fases e o desejo de me encontrar, de me sentir parte de alguma coisa,
de ser feliz tornou-me um ponto convergente.
O Universo se posicionou para conduzir-me por uma aprendizagem
que culminaria em algo muito especial e duradouro. Comecei a meditar, praticar
yôga e principalmente ler alguns autores. Perceber-me como um ser único, sem
cópia por este planeta afora me deu a real noção do meu valor e passei a me
amar e me perdoar incondicionalmente. Comecei a exercer a gratidão por minha
existência, a aceitar-me exatamente como sou, independente do olhar e conceitos
que eu outrora praticara (é impressionante o peso da nossa própria
aceitação, é uma chave poderosa a destrancar as mais ferrenhas cadeias) e
de repente me vi extremamente feliz em um todo e não em fragmentos felizes.
Hoje compreendo a natureza da minha essência e que não é uma prerrogativa
pessoal, mas inerente a todo ser humano, ou seja, ansiamos por vivenciar os
sagrados atributos da divindade que habita o nosso ser que são: harmonia,
beleza, amor, paz, alegria, felicidade e todas as dádivas da vida que vêm de
uma Única Fonte, que também nos busca.
Ser feliz não é apenas um estado de alma, é antes de tudo uma
atitude e o resultado do reconhecimento de que se estou aqui, é para ser feliz.
É a apropriação de um princípio imutável: o princípio da alegria,
felicidade, pois não há um princípio de tristeza, então não permito mais que se
aloje em mim algo menor que uma felicidade absurda. Meu estado de alma é
felicidade, gratidão, paz e harmonia. Não me critico por nada, e quando penso
em fazê-lo, gentilmente agradeço a sugestão inferida e me permito um agrado
verbal, declaração de amor à minha pessoa a tempo e fora de tempo. Creio que o
trilhar da felicidade passa por este viés quando nos amamos de fato, sem
espaços para críticas que nos remota ao passado, (cuidado, este adora
nos seduzir) repetindo e repetindo os mesmos erros. Me aceito e me amo
incondicionalmente e sendo assim, abro espaços para que os princípios imutáveis
residam em mim. Permita-se.