Um dia viajarei para lugares longínquos
onde sonhar
seja o ar a encher pulmões
e luz para recônditos esquecidos
Lugares espelhos que reflitam nitidamente
o que não vejo e desconheço a meu respeito
que espelhem oportunidades que repousam sobre meus ombros
(não as culpo
se cantei-lhe cantigas de ninar)
despertando-as desta inércia que torna lento meu andar
e cumpram seu papel despertando-me também
(não me culpo
se cantei-me cantigas de ninar)
embora todos os dias um culpar me oculte em abraços
Lugares que resgatem vidas desatreladas do meu eu
que espiam e desejam tocar-me
atrelar-se novamente
ocupar vazios da minha alma que me custam
que degustam meu ser fortalecendo-se diariamente
não desejam albergar vazios que me enfraquecem
anseiam compor meu ser
vestir minha alma
libertar tantas e tantas
expulsar tristezas que oprimem
(cantigas de ninar mortais matam
e finjo dormir)
Lugares artísticos aonde a arte de viver
pincele cores sobre o reinante gris
e súditos incolores,
serviçais submissos
apagados
e refeitos pinceis insubmissos
pinceladas
militantes da subversão
solapando sorrateiramente a moral do conformismo
(Cantigas de ninar se calam
ouço o retumbar dos tambores)
Lugares lúdicos
Prazer em fazer e ser
Ora criança, ora mulher
Ora me escondo, ora me acho
Ora compreendo minha essência
Aceito meus medos
e a solidão que me cerceia
parceira fiel
ora conflitamos
Entre jogos se habilita a disputa
não mais criança
nem tão mulher
apenas sobrevivo.
(Cantigas de ninar,
não mais. Silêncio.)