Ouvi uma canção “mara” a caminho do trabalho, tão antiga, quanto alguns dos meus sonhos, tão coerente como a realidade do tempo que se escoa e que não se ajunta de novo, seja você rico, pobre, preto, branco, homem, mulher, ser vivente.
Se temos noção de que a vida segue religiosamente como um ritual jamais profanado, que é metódica na mesma proporção em que é flexível, que é doce e suave e pode na mesma esfera, ser dura e implacável, espera ela, alguns segundos? Uma fração de segundos? Consegues imaginar o que é isto? Espera o quê? O que achamos que a “vida” espera de nós? Que sejamos perfeitos? Um ser humano invejável? Uma pessoa amorosa? Um profissional bem sucedido? Um ser solidário, feliz, completo? Espera gestos de extrema bondade e um amor ao próximo expresso em atitudes bem mais contundentes, do que simples blá, blá, blá? Poderia prosseguir por páginas e ainda assim pecaria, não por excesso, mas por omissão de algumas coisas que talvez a vida espere apenas de mim. Seria muita pretensão de minha parte inferir isto? Ou ainda acreditar que pelo simples fato de sermos únicos e diferenciados em uma série, (acredite, o somos) existem coisas que só compete a mim, o feito de realizá-las?
Já acordou com a estranha sensação de que está em falta? Já levantou da cama com a impressão de que parte de você ainda dorme e se esconde entre edredons e lençóis? Parte de você ficou preso naquele sonho, e não se engane, não são os bons sonhos os melhores carcereiros. Sonhos pesadelos também nos prendem, embora acordemos assustados antes que seu intento se cumpra e aliviados, agradecemos aos céus: “Ufa, graças a Deus foi só um sonho!” Se no sonho morreu alguém que amamos e se ao nosso lado está, ao alcance de nosso carinho, nos levantamos e o beijamos suavemente para que não acorde. Se está distante pedimos a Deus que o proteja e assim que possível, ligamos, fazemos uma visita, mandamos um e-mail. Mas, se contrariando toda regra sequer nos damos ao trabalho, pergunto novamente, o que espera a “vida” que eu faça? Porque ela continua seguindo seu rumo, não pausa para um descanso, nem fica no dobrar da esquina esperando por nós. ELA SEGUE, caminha e a cada passo dado, não soma comigo, apenas subtrai.
A vida não se deixa aprisionar em sonhos e embora “sonhar” revele-se um caminhar prazeroso ou assustado, temos que ter consciência de que acordar, é mais produtivo. Sonhas um dia realizar este ou aquele feito? Sonhas em fazer diferença neste vasto mundo? Como seria isto possível se no meu universo particular privilegio o individualismo e tenho dificuldades em influenciar para o bem comum? Durmo com sonhos filantrópicos, mas sequer olho para o mendigo que cruza meu caminho, sou incapaz de ajudar meu próximo e queixo-me da vida o tempo todo?
Alguns consideram-na implacável, vingativa, com um propósito obscuro, uma ladra de sonhos, pessoas, oportunidades. Constantemente ouvimos: “A vida me tirou tudo que tenho, vida isto, vida aquilo, vida bandida”. O que espera a “vida” que eu faça? Se cruzamos os braços e ao sabor das ondas vamos escorregando existência afora, não ficamos aquém de nós mesmos? Reféns de uma letargia que nos consome de forma quase imperceptível, em um belo dia o que vemos no espelho assusta, pois nem de longe assemelha-se com a imagem que carregamos na memória de quem um dia fomos. E agora? Dá para maquiar e disfarçar este alguém? Torná-lo menos rude, menos amargo, menos insatisfeito? Quem dera tivéssemos uma varinha de condão, e “Zis salabrim”, mudei enfim”. Lamentavelmente continuamos os mesmos, velhos hábitos, velhas esperanças, velhas atitudes, até percebermos que uma mudança é um projeto e como tal, programável em qualquer fase de nossa existência. O “Zis salabrim” a que me refiro, é a minha vontade, meu querer, minha necessidade.
O que espera a vida que eu faça? Felizes os que a consideram um presente de alto valor ( aqui me incluo) e por isto, objeto inestimável. Acordam ou melhor, despertam para mais um “mundo” de possibilidades, para um eu posso enxergar o que me cerca por um novo prisma, posso dar um novo tom para cores e notas desvanecidas, posso fazer frente às situações que ontem me intimidaram. Um despertar convicto, faz toda diferença!
Como é? Que música ouvi? Deixei-a de propósito para o final e cito alguns versos:
“Hoje o tempo voa amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
Não há tempo
Que volte amor
Vamos viver tudo
Que há pra viver
Vamos nos permitir.”
Como é? Que música ouvi? Deixei-a de propósito para o final e cito alguns versos:
“Hoje o tempo voa amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
Não há tempo
Que volte amor
Vamos viver tudo
Que há pra viver
Vamos nos permitir.”
Permita-se e na medida do possível, seja feliz!